A dor nos ensina? Ensina o quê?

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Quando eu tinha 18 anos uma amiga estava sendo abordada por um ex-namorado que queria reatar o relacionamento passado. Lembro-me muito bem do que ela disse naquela ocasião: que as pessoas têm a tendência de esquecer as dores e guardar apenas as boas recordações de algo, o que faz com que haja sempre essa tendência de voltar ao passado.
Até hoje sou amiga desta "menina" e nunca me esqueço dessa idéia de que a nossa melancolia é fruto da incapacidade de guardar o sentimento da dor.

Uns meses atrás fui retocar minhas tatuagens. Eu já tinha tatuagem, sabia o quanto dói, mas no momento em que o tatuador começou a tatuar, de novo, pensei "Caralho! Não lembrava que isso dói tanto!". Agora, escrevendo isso, já não consigo "sentir" aquela dor, mesmo lembrando dela. Na verdade me lembro do que pensei no momento, é minha cabeça que lembra meu corpo de como é passar por mais uma sessão de agulhadas.

Comecei a pensar naquelas dores que a gente sente e que parecem mais fortes do que as passadas. Quando um amigo nos trai, quando pecebemos que aquela pessoa não era nossa amiga... Dói muito, parece que nunca sentimos dor deste tipo. Ainda chegamos a afirmar que dor de "amigo" é pior do que de "namorado". É?...
Mas quando chega ao fim um relacionamento... Quando sentimos uma dor de amor "qualquer", uma dor que parece nunca ter sido sentida. E chegamos a crer que nunca mais haverá dor igual.

É essa dor que qualifica o quão grande é esse amor partido. Se a dor é aguda, daquelas que sufoca, que explode em choro desesperado, no meio da rua, dentro do ônibus, comprando pãozinho... aí temos certeza de que o amor é tão intenso e grande e descontrolado quanto esta dor. E pensamos: nunca doeu tanto. Nunca amei tanto.
Mas os meses passam, o tempo passa, e um novo amor vem, e a regra é que ele virará outra dor - porque o amor é uma coincidência, como disse o Cazuza, não acontece sempre nem com todo mundo. E aí temos a reprise de sentimentos "inéditos".

Será que uma dor é diferente da outra, como cada amor é diferente do outro? Ou a dor é a mesma, visto que sou eu quem sinto?
A resposta não importa. Não importa como era "antes" e como será depois da dor. O que importa é o hoje, o agora. O que importa é que não adianta chorar... nada é capaz de sanar algumas dores, seja o cãozinho que se foi, o dedinho do pé que bate no canto da mesa, ou a dor da esperança que já não acorda mais conosco todas as manhãs.

Para ler ouvindo "Dores de Amores" - Zezé Motta & Luiz Melodia

3 Flâneurs:

mmeira disse...

ultimamente tenho evitado todos esses tipos de dores.

só o meu joelho esquerdo que insiste em procurar quinas para bater de frente.

Unknown disse...

Pois é...
Doer a gente sabe que vai. Mas o principal problema, ao meu ver, é: a gente quer mesmo fugir dessa dor? Ou mesmo, a gente quer fugir das causas das nossas dores?
Não sei... vou ficar aqui pensando...
Beijão!

Syntia disse...

má, um starbucks pra debater o assunto - e por minha conta! e a minha amiga do começo do post tb é sua amiga, qeu namorou um ex-amigo meu... aposto q vc ouviu a mesma coisa dela na época! bjos